Cachaças contratam firma que faz garrafa de uísque

Fabricantes de cachaça estão investindo em garrafas com design sofisticado para tentar conquistar os consumidores do mercado de luxo. As marcas 51, Yaguara, Caraçuípe e Antônio Rodrigues são alguns exemplos da tentativa dos fabricantes de chegar perto da aura mais refinada que ronda outros destilados, como a vodca e o uísque. 

Elas fizeram parcerias recentes com a fabricante de vidros americana Owens-Illinois, e envasam seus produtos em garrafas da linha de luxo da empresa, chamada Covet.

Essa linha é usada em bebidas como os uísques Black Grouse  (Escócia) e Jack Daniels (EUA), e o champanhe Duval-Leroy (França). As marcas de rum Cartavio (do Peru), Maestro Botero e Medellin (ambos da Colômbia) também têm embalagens da marca.

A garrafa da cachaça Yaguara foi feita em parceria com o artista britânico Brian Clarke. É azul e tem ondas brancas que remetem ao desenho do calçadão da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. O produto, orgânico, custa R$ 97.

Foi também com embalagem de luxo que chegou ao mercado a cachaça Antônio Rodrigues – Reserva do Coronel. Rodrigues é dono de marcas mais populares, como a Seleta, mas decidiu associar seu nome a um produto mais sofisticado, cuja garrafa custa R$ 140.

As novas garrafas da 51, sendo uma exclusiva para exportação, e duas da Caraçuípe, também levam o design da linha Covet.

'Produto nobre com embalagem pobre'

"O mercado de cachaça tem uma característica curiosa, que é ser nobre, com embalagem pobre. Grande parte das cachaças especiais é vendida em uma garrafa convencional de cor âmbar [amarronzada] e 600 ml", diz Adalberto Viviani, consultor da linha Covet no Brasil.

Segundo ele, o objetivo da Owens-Illinois é tratar o segmento de bebidas como o de perfumes, que tem embalagens exclusivas para se destacar entre os concorrentes. Com garrafas luxuosas, a expectativa é que a cachaça mantenha sua tradição, mas chame tanto a atenção quanto outros destilados nas prateleiras de bares e restaurantes sofisticados.

Segundo o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), o segmento superpremium soma apenas 5% do mercado do produto no Brasil. Mas esse tem sido o foco de muitas empresas porque o mercado de cachaças como um todo teve queda entre 5% e 8% nas vendas nos últimos anos. O Ibrac não tem dados totais de vendas.

"O que vem sendo aparente nos últimos dez anos é uma atenuação do estigma negativo que existia em relação à cachaça. A tequila também passou por isso. Há 30 anos, era um produto muito barato, que mexicanos sofisticados não consumiam, e hoje isso mudou. O mesmo tende a acontecer com a cachaça", diz o presidente do Ibrac, Vicente Bastos.

Ele afirma que não existe uma definição do que faz uma cachaça ser superpremium. De maneira geral, uma cachaça é considerada de qualidade se seguir normas de produção do Ministério da Agricultura. Para ser considera premium ou superpremium, o produto precisa, ainda, ter outras qualidades, como aroma e sabor agradáveis e embalagem sofisticada. Nem sempre essas características estão juntas. 

Dados do International Wine and Spirits Research (IWSR) mostram que o segmento do mercado de destilados superpremium, que custam acima de US$ 26 (cerca de R$ 58), vem crescendo rapidamente no mundo todo. A expectativa é que, até 2017, esse segmento cresça 17% na América Latina, impulsionado pelo aumento da renda da população. 

Publicado em: UOL
Data: 29/07/2014
Autor: Aiana Freitas
Link: http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/07/29/cachacas-contratam-firma-que-faz-garrafa-de-champanhe-para-parecer-chiques.htm#fotoNav=10