Cachaça brasileira segue os passos da tequila e planeja conquistar os chineses

Por Ricardo Gonçalves.

A brasileiríssima cachaça está sendo foco de uma polêmica discussão.O pomo da discórdia é o Projeto de Lei 1.187, de 2007, que estabelece novas normas no que diz respeito à produção e comercialização da cachaça e da aguardente de cana. Sua conclusão é importante, porém o projeto corre o risco de ser desvirtuado.

 O reconhecimento internacional da cachaça como bebida tipicamente brasileira é uma luta antiga do setor, e um dos resultados desse trabalho foi a aceitação da bebida, nos Estados Unidos, como um produto genuinamente made in Brazil.

Essa foi uma grande vitória; porém, algumas alterações propostas ao PL 1.187, em análise pela Comissão de Agricultura da Câmara, podem interferir no propósito da medida. Entre outras mudanças, há uma determinando que a bebida seja classificada de duas formas: Artesanal, quando fabricada em alambique de cobre; e Industrial, e que essa classificação seja informada no rótulo. Separação que vai promover indefinição junto aos consumidores que estejam interessados em consumir nossa cachaça.

Não há uísque artesanal ou industrial, tampouco vodca artesanal ou industrial. Ou qualquer outro destilado que tenha interesse na sua imagem internacional que utilize esta ou qualquer outra forma de diferenciação.

A preferência do consumidor deve ser pelas marcas disponíveis no mercado, sem distinção de método, uma vez que não há teste físico-químico que aponte diferenças que possam ser adotadas como método de separação. O que deve prevalecer é a qualidade da produção.

As boas práticas de fabricação são os melhores elementos para se obter um bom produto, e compete às autoridades observar, por meio de fiscalização, a obediência estrita aos padrões estabelecidos, inclusive os de contaminantes, assim como ocorre em outros segmentos do agronegócio.

É importante acabar com a discriminação e difundir cada vez mais o produto no exterior. Para isso, são necessários uma definição e o cumprimento de identidade e qualidade para atender ao exigente mercado externo.

Chama a atenção também a proposta de permitir o processo e engarrafamento do produto em estabelecimento diferente do responsável pela marca, sem que haja sequer a obrigatoriedade de alertar as autoridades e o consumidor quanto ao fato.

Ou seja, são mudanças que não contribuem para aprimorar a produção da bebida mais brasileira. O brasileiro bebe cerca de 11 litros/ano de cachaça, superando tradicionais consumidores de destilados, como os alemães, os húngaros e os poloneses (entre 9 e 10 litros/ano). O consumo interno é superado apenas pela cerveja.

É importante ressaltar que, apesar da capacidade instalada, menos de 1% do que é produzido anualmente é exportado. São aproximadamente 180 empresas que exportam para mais de 55 mercados. Os últimos números do setor mostram que em 2008 foram exportados 11,09 milhões de litros, que geraram uma receita de US$ 16,41 milhões, o que representou crescimento de 18% em valor e 20% em volume em relação a 2007. Nos mercados de destino da cachaça figuram países como Alemanha, Estados Unidos e França.

A bebida que representa o Brasil pode ser sinônimo de um produto para ser apreciado no mesmo nível das melhores bebidas do mundo. O setor precisa unir esforços para evitar que, um projeto que pretende ser um marco regulatório, vá na contramão desse objetivo.