Degustação: Cachaça

 Uma das questões, relacionadas a cachaça, mais intrigantes que as pessoas possuem é: “Mas como se degusta uma bebida tão diferente como a cachaça?”
 

A resposta é mais simples do que parece. A cachaça é uma bebida como qualquer outra, ou seja, pode ser submetida a uma análise sensorial de suas qualidades e defeitos. Melhor dizendo, experimentar ou degustar uma bebida, não esquecendo que o ato de degustar não é o mesmo que beber. Degustar é provar, beber delicadamente, atendo-se às caraterísticas que a bebida possui: aparência, cor, aroma e sabor.

Existe o profissional habilitado para uma análise mais específica das bebidas, ele é denominado sommelier (de cachaça, de vinhos, de cervejas, de águas, de azeites, etc). Sua função é determinar as características das bebidas que está sendo servida para o cliente e harmoniza-la com as refeições. Mas para atuar de maneira correta na função é necessário muito tempo de estudo e experiência profissional.

Mas iremos nos limitar aos passos de uma degustação amadora para exemplificar melhor as condições da cachaça, sem termos técnicos, apenas indicando cuidados e dicas importantes para o tema.As primeiras dicas, mas que não faz parte da degustação em si:

  • Beba pelo prazer, privilegiando a qualidade e nunca a quantidade.

  • Reúna alguns amigos, monte uma roda de interessados e apreciadores.

  • Utilize taças ou copos de vidro transparentes limpos.

  • Para a degustação, escolha um local limpo, arejado e com boa luminosidade.

  • Não é recomendado a degustação de um número maior que 5 rótulos de cachaça juntos.

  • Não se esqueça de tomar água em todo o processo, principalmente, entre a troca das cachaças.

O exame visual

Leia o rótulo, sempre! Analise as informações como o teor alcoólico, nome do fabricante, região produtora, registro no Ministério da Agricultura e a madeira de envelhecimento (mais de 20 tipos), se caso utilizada.

  1. Observe se não há presença de ciscos no fundo da garrafa.

  2. Agite a garrafa fechada e observe a formação de bolhas, elas deverão desaparecer em até 10 segundos.

  3. Depois de servir a bebida em cerca de 1/3 da capacidade máxima da taça, analise as características visuais.

A cachaça deve ser branca ou amarelo claro, mas algumas podem conter um tom âmbar ou mais dourado, devido ao envelhecimento ou pelo uso de melado na produção.

Para terminar, analise a formação de lágrimas quando há movimento na taça. A bebida deverá formar arcos, também chamados de “choro”, para atestar a qualidade da cachaça.

O exame olfativo

Talvez um dos passos mais importantes.

Para se fazer o exame olfativo completo, é importante seguir dois estágios:

  1. Aproxima-se o nariz da borda do copo em repouso para se sentir a intensidade e a fineza da cachaça.

  2. Faz-se um ligeiro movimento circular com o copo para que aromas mais sutis, ainda não percebidos, sejam liberados.

As cachaças de qualidade apresentam o aroma frutado, que identifica a presença de ésteres. O aroma alcoólico deve existir, mas não deve ser acentuado. O aroma ácido (azedo) deve ser discreto – quando acentuado indica qualidade inferior. Já o aroma adocicado, do mesmo modo, não deve se destacar.

Ao cheirar a cachaça, a pessoa descobrirá os aromas que a caracterizam, que, em princípio, são três:

  1. O primário, próprio de toda a cachaça, que é o da cana-de-açúcar.

  2. O aroma secundário é adquirido durante a fermentação, produzido pelas substâncias secundárias, principalmente ésteres, aldeídos e óleos.

  3. O aroma terciário é transmitido pela madeira do recipiente onde a cachaça foi armazenada.

Os aromas mais comumente encontrados são: o alcoólico, o frutado, o ácido e o adocicado.

O exame gustativo

Nesse momento da degustação é que a bebida deverá se confirmar diante das características que demonstrou anteriormente.

Através das papilas gustativas, localizadas na língua, podemos perceber os quatro tipos de sabores: doce, salgado, amargo e ácido.

Nesse exame, também as seguintes características são analisadas: estrutura, acidez, álcool e corpo. A estrutura retrata sua adstringência. Isto é, uma boa cachaça é aveludada, não transmitindo travo ou amargor, aquela sensação de “amarrar a boca”. A acidez é a mesma sensação que encontramos em frutas cítricas, como o limão.

A cachaça deve ser macia e redonda, ou seja, não deve ser picante nem arranhar na garganta. Devido a seu alto teor alcóolico, é preciso ter muito cuidado em avaliar o gosto da bebida, pois o álcool pode amortecer as papilas gustativas e, com isso, mascarar os demais sabores. A cachaça também deverá ficar por alguns segundos na boca, atestando a sua qualidade.

Todo esse processo deverá, de preferência, ser repetido para assegurar as características encontradas.

E lembre-se que a degustação de bebidas é uma técnica, e por isso deve ser treinada. É muito comum que as primeiras degustações não tenham um resultado significativo, mas quanto mais rótulos degustar, melhor será sua avaliação na análise sensorial.

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Publicado em: Papo Gastronômico.