Produtores lançam catálogo de cachaça

RIO - A maioria dos consumidores não pergunta qual cachaça será usada quando pede uma caipirinha num bar ou restaurante. Assim, se sujeita a beber produto de má qualidade. Mudar esse hábito é um dos objetivos da Carta de Cachaças do Estado do Rio, que será lançada pela Associação dos Produtores e Amigos das Cachaças (Apacerj), no dia 29, no restaurante O Navegador, do Clube Naval, no Centro do Rio.


Mais uma dose. Eveline, da Academia da Cachaça: cliente mais informado
Foto: Agência O Globo / Pedro Kirilos

Em formato de catálogo, a carta pretende mostrar que a cachaça também deve ser usada em drinques.

- A cachaça artesanal evoluiu muito nos últimos anos. Nos bons restaurantes, por exemplo, há dois tipos de caipirinha no cardápio: a comum e a com a cachaça premium, obviamente com preços diferentes - explica Haroldo Carneiro, que planta cana-de-açúcar e produz a cachaça São Miguel, em Quissamã, no Norte Fluminense.

A carta traz informações históricas e culturais sobre produtores e derivados da cachaça. É destinada tanto ao apreciador quanto aos profissionais de bares, restaurantes e hotéis. Apresenta 36 rótulos de 19 produtores. O objetivo é criar um instrumento para divulgar a qualidade e ampliar o mercado das cachaças do estado.

Eveline Sidi, gerente-geral da Academia da Cachaça do Leblon, lembra que, quando o bar foi aberto, a presença da cachaça fluminense era tímida.

- Nossa carta tem 20% de cachaças fluminenses. Acho que não só o consumo aumentou, mas também o conhecimento e a curiosidade dos clientes.

A família de Eduardo Calegari Mello produz a Cachaça Coqueiro em Paraty, na Costa Verde, desde 1803. O município tem o maior número de produtores do estado, mas não a maior produção, que está concentrada no Norte-Noroeste:

- O importante é mostrar aos fluminenses que o estado tem cachaças de qualidade, produzidas há muitos anos. Antigamente, só bebia cachaça quem frequentava bares de terceira categoria. Agora a cachaça chegou à classe A.

O fenômeno é parecido com o das cervejas artesanais, que ganha espaço no mercado.

- A carta ensina a harmonizar os diferentes rótulos e, assim como acontece com o vinho, descreve o ritual que deve ser seguido para servir a cachaça. Porque beber uma boa cachaça também exige um ritual - diz Calegari.

Paraty recebe muitos estrangeiros. É o quinto destino turístico do Brasil para quem vem de fora, de acordo com a Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Turisrio).

- Os americanos, ingleses, alemães e franceses ficam encantados com a cachaça, que não existe nos seus países. E fazem questão de ver como são produzidas – garante Calegari.

Concursos internacionais

No Estado do Rio, há regiões tradicionalmente produtoras, que há mais de 200 anos têm sua história ligada à cana-de-açúcar e a seu destilado. Além de Paraty e Quissamã, as cidades do Médio Paraíba também se destacam.

Nos últimos anos, o estado vem ganhando notoriedade por causa da qualidade das cachaças, que têm obtido resultados expressivos em concursos. No ano passado, no Concurso Mundial de Bruxelas, que afere a qualidade de vinhos e destilados, entre 800 concorrentes, 70 eram de várias regiões do Brasil.

As cachaças do Rio obtiveram sete das 22 medalhas concedidas aos produtores brasileiros. Receberam o ouro a Fazenda Soledade Jequitibá (Nova Friburgo), a Werneck Prata (Rio das Flores), a São Miguel Cerejeira (Quissamã) e a da Quinta (de Carmo). Receberam a prata a Werneck Tradicional, a Reserva do Nosco e a Reserva do Nosco Envelhecida (de Resende).

Publicado em O GLOBO.